quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Dica de Turismo - Paraty

AVISO
Muito bem, vale lembrar que Paraty é prá quem gosta de Natureza, mato, sossego, abraçar a árvore, dormir cedo, levantar cedo, porque chove e só é possível aproveitar os passeios na parte da manhã, é pra quem quer descansar, desestressar, lá não tem agito, o máximo do agito é um bom (mas às vezes nem tanto) cantor num barzinho /  restaurante com comida boa, à noite. Como o Café Paraty que fica na Rua do Comércio que é uma das principais no centrinho, o local é bem modernoso, é interessante, porque quando a porta fecha parece que você voltou pro século XXI e para os confortos???, agitos e "sons" da vida moderna, não me lembro bem, mas dependendo da época, acho que é bom fazer reserva, caso contrário tem fila de espera (SIC), mas peraí, prá pegar fila fica em Sampa, né?


Em Paraty chove muito, então tem que tomar cuidado com pousadas antigas, mofadas e empoeiradas.
Prá quem quer saber mais a respeito de Paraty, estes sites são muito bons: http://www.paraty.tur.br/turismo/duvidas.php e http://www2.uol.com.br/paraty

Avisos dados vamos às dicas:

POUSADAS
Gosto muito da Pousada da Condessa (http://www.pousadadacondessa.com.br) já fiquei lá 3 vezes, tem diárias para todos os bolsos. Mas tem que ligar bem antes prá conseguir lugar.
É boa com e sem filhos, na verdade, é excelente para quem tem filhos - piscina adulto e infantil (2 tamanhos, sala de vídeo, copa da mamãe, cardápio no restaurante adequado para crianças) costumava ser muito boa, fica perto do centro, o suficiente para ir a pé. Tem um restaurante muito bom. Piscina. Ar e ventilador teto e uma antesala com cama para o(s) pimpolho(s) dormir(em).

Hospedei-me na Naus de Paraty (http://nausdeparaty.com.br) é mais longinha, é boa sem filho, preferencialmente, mas se tiver filho também dá. Mas é para pouquíssimo tempo, porque não tem restaurante, é só café da manhã (uma delícia por sinal), o atendimento é muito bom, tem piscina e ventilador teto, mas dá prá ouvir o barulho dos aptos. vizinhos, como por exemplo, aquele pessoal que adora chegar dos passeios noturnos às 2:35h da manhã e ainda praticar uma boa e saudável confraternização sexual (nada contra).

Já fiquei também no Hotel Perequê (http://www.hotelpereque.com.br) é uma pousada um pouco mais rústica, com bastante verde (atrai bastante estrangeiros), tem piscina grande e boa, ar e ventilador de teto, mas  não tem restaurante, em compensação o café da manhã é bem completo e saboroso; e sempre dá para ir jantar no restaurante da pousada da Condessa que é pertinho, dá prá ir a pé e é aberto aos não hóspedes.

Tem também a Pousada do Príncipe (http://www.pousadadoprincipe.com.br) que fica bem no limiar do Centro, no meio da muvuca, então prá sair com o carro já é mais complicado, porque no centro, centro mesmo não pode entrar carro  e os estacionamentos para guardar o carro são carésimos...
Nunca fiquei lá, porque não consegui vaga, é muito concorrido, mas fui conhecer o Hotel, inclusive os aptos e gostei do que vi.

Sempre chove em Paraty, tipo assim: quase todo dia.
Deve-se levar capa de chuva e guarda chuva para sair a noite e aproveitar o centro porque vale a pena.
Aliás, a chuva noturna é uma benção, porque quando o tempo fica muito seco o centro fica fedendo cocô, por causa do sistema de esgoto do tempo do Brasil Colônia.

A culinária local é excelente, qualquer prato com banana frita, é muito bom!!!! Mas cuidado! com os preços!! Tem restaurante que é renomado com chefs famosos e consequentemente a comida é cara, então é melhor verificar o cardápio antes de entrar e se quiser muito jantar em algum restaurante pitoresco, às vezes é bom fazer reserva antes.

Primeiro item da lista a ser separado para colocar na mala: protetor elétrico bivolt contra insetos e deixar ligado na tomada dia e noite, fechar as janelas ao entardecer (não deixar nenhuma frestinha) para poder dormir bem, à noite; livre dos pernilongos, muriçocas e afins...

Não deve faltar na sua mala:
- Papete com boa aderência para caminhadas nas cachoeiras, 2 pares de tênis de lona que possam molhar para caminhadas nas trilhas, chinelos tipo havaianas coloridas e lindas, com alças que sustentem bem para ir ao centro.
- Protetor solar (muito), melhor sobrar do que faltar, porque se tiver que comprar lá , custa o dobro, eles enfiam a faca, seja no supermercado, no mercadinho ou nas farmácias, ou lojinhas diversas.
- Repelente (litros) de todos os tipos, em creme  pra passar na pele e em spray prá passar por cima da roupa.
- Lysoform spray (prá passar em armários e portas que às vezes ficam com cheiro de mofo...)
- Bonés e chapéus (vários, porque eles molham e não secam de um dia pro outro).
- Roupas confortáveis pros passeios camisetas e calças leggins, por causa do mato; sempre levar toalhas e trocas de roupas, porque se não chover durante o passeio, você cai e se suja na lama ou se molha...
- Se tiver filho ou mesmo se não tiver, leve um lanchinho extra para os passeios porque nem sempre tudo aquilo que eles falam que será servido é servido e o tempo nem sempre pode ser respeitado afinal, imprevistos acontecem e o passeio acaba demorando 1 ou 2 horas a mais do que o planejado pra acabar e ninguém merece ficar ouvindo filho chorar porque está com fome, principalmente quando o filho não é seu!!

Não deve haver na sua mala
- Salto alto, nem sandália plataforma em hipótese alguma, o piso do centro é do tempo do Brasil Colônia todo irregular e prá escorregar nas pedras (porque chove...) ou torcer o pé nos buracos e torcer o pescoço mesmo, é um pulinho!!!


PASSEIOS
Deve-se fazer pelo menos 1 passeio de escuna com pontos de mergulho de Snorquel, mesmo não sabendo mergulhar, o povo da escuna explica e o hotel te ajuda a contratar o passeio, o preço é o mesmo. Se tiver o próprio Snorquel é melhor né, mas se não tiver eles emprestam...daí deixa o nojinho de lado e manda brasa, porque os passeios vão até pontos de mergulho considerados como sendo um dos melhores do Brasil, pela visibilidade, beleza e biodiversidade marinha.
É valido contratar em Paraty um passeio de escuna que sai de Angra dos Reis (você deve ir dirigindo até Angra - o passeio sai de lá às 9:00h se eu não me engano) e vai até a Ilha Grande, é bastante bonito e legal. Se não conseguir contratar o passeio em Paraty mesmo, é só ir direto até Angra e contratar lá, tem um monte de placas indicativas de onde saem os passeios e de onde estacionar,  é bem fácil achar e chegar.
Apesar de famoso, o bairro de Trindade virou antro de comunidades alternativas demais e outras comunidades afins... e o local nem está mais tão bonito assim, vale a pena ir mas só prá dar uma passadinha e conhecer, mas cuidado, no final de semana tem trânsito e fica lotado, fuja!!!! Prá pegar trânsito, saia de casa numa sexta-feira chuvosa pegue a 23 de maio sentido centro às 8:15h.
Em Paraty, no final de semana, prefira ir sentido norte, como quem vai para Angra dos Reis, porque lá tem duas praias muito boas que são: São Gonçalo e São Gonçalinho, porque em uma delas você paga pros barcos da praia te levarem até a ilha em frente, com praia de águas calmas quentes e cristalinas, é bem pequenina, mas que tem uma infraestrutura boa para almoço, e lembre-se, volte antes da chuva!

A rota do ouro é tudo de bom, inclusive por causa dos restaurantes rústicos e deliciosos que há para esses lados. A Fazenda Murycana que tem um Alambique e restaurante colonial pode ser conhecida sem necessidade de se contratar um passeio via hotel ou agência e é muito boa. (http://www.paraty.com.br/murycana)
Passeios às cachoeiras e trilhas à cavalo, de jeep ou à pé são obrigatórias.
As praias melhores ficam nas ilhas.
Os hotéis têm as dicas de passeios.
Os melhores souvenirs são pimenta biquinho, cachaças variadas, licores e doces caseiros (o de goiaba é obrigatório). Como lá sempre tem muito estrangeiro, cuidado com os preços.
O pessoal local (Paraty) é bastante hospitaleiro, acolhedor e prestativo, então ela não terá problemas em descobrir os cantinhos interessantes.
Gente! Não é porque chove muito que tudo é uma merda em Paraty, porque não é, sou chatérrima e amo Paraty de paixão!!! Se pudesse, voltaria todo ano.
É só passar repelente antes de sair do quarto que os bichos não vão te comer viva, como em qualquer outro lugar que tem mato e rio.
Tem que ter espírito aventureiro, se quiser pousada pé na areia tem que ir prá outro lugar, porque as praias da cidade não são tão bonitas assim, mas em compensação as que estão ao sul e ao norte....são de tirar o fôlego...tudo é lindo!!!
Tinha dias que só estávamos nós três (eu, meu marido e minha filha) na praia deserta, um verdadeiro paraíso!!!
Paraty vale a pena prá quem tem energia e espírito aventureiro com e sem frescura, com e sem filhos (de qualquer idade), mas com bom senso... os hospitais mais próximos ficam em Ubatuba ou em Angra (40km).
E como os hotéis são muito bons, dá prá pegar uns dois ou três dias ou intercalar um dia pesado / cansativo com um dia no hotel, na beirada da piscina, lendo um livro....escutando os grilinhos cricrilando e os passarinhos cantando e os sapinhos coaxando (lá longe)...
beijos.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Educar para a Compaixão, por Rubem Alves

"A boca fala do que está cheio o coração": esse é um ditado da sabedoria judaica que se encontra nas escrituras sagradas.

Bem que poderia ser a explicação sumária daquilo que a psicanálise tenta fazer: ouvir o que a boca fala para chegar ao que o coração sente. Acontece comigo. Cada texto é uma revelação do coração de quem escreve. Pois o meu coração ficou cheio com uma coisa que me disse minha neta Camila, de 11 anos. O que ela falou fez meu coração doer. Como resultado, fico pensando e falando sempre a mesma coisa.

A Camila estava na sala de televisão sozinha, chorando. Fui conversar com ela para saber o que estava acontecendo. E foi isso que ela me disse:

- "Vovô, quando eu vejo uma pessoa sofrendo, eu sofro também. O meu coração fica com o coração dela".

Percebi que o coração da Camila conhecia aquilo que se chama "compaixão". Compaixão, no seu sentido etimológico, quer dizer "sofrer com". Não estou sofrendo, mas vejo uma pessoa sofrer. Aí, eu sofro com ela. Ponho o outro dentro de mim. Esse é o sentido do amor: ter o outro dentro da gente. O apóstolo Paulo escreveu que posso dar tudo o que tenho aos pobres, mas, se me faltar o amor, nada serei, porque posso dar com as mãos sem que o coração sinta.

De que vale o conhecimento sem compaixão?

Todas as atrocidades que caracterizam os nossos tempos foram feitas com a cumplicidade do conhecimento científico.

A compaixão é uma maneira de sentir. É dela que brota a ética.

Alguém foi se aconselhar com Santo Agostinho sobre o que fazer numa determinada situação. Ele respondeu curto e definitivo:

- "Ama e faz o que quiseres".

Pois não é óbvio? Se tenho compaixão, nada de mau poderei fazer a quem quer que seja.

Fernando Pessoa escreveu um curto poema em que descreve a sua compaixão.

Por favor, leia devagar:

- "Aquele arbusto fenece, e vai com ele parte da minha vida. Em tudo quanto olhei fiquei em parte. Com tudo quanto vi, se passa, passo. Nem distingue a memória do que vi do que fui". Compaixão por um arbusto... Ele explica esse mistério da alma humana dizendo que "em tudo quanto olhei fiquei em parte. Com tudo quanto vi, se passa, passo...". Os olhos, movidos pela compaixão, o faziam participante da sorte do pequeno arbusto.

Eu já sabia disso, mas nunca havia enchido o meu coração a ponto de doer. Doeu porque liguei a fala da Camila a essa tristeza que está acontecendo no Brasil. Os corruptos são homens que passaram pelas escolas, são portadores de muitos saberes. Tendo tantos saberes, o que lhes falta?

Falta-lhes compaixão. A falta de compaixão é uma perturbação do olhar.

Olhamos, vemos, mas a coisa que vemos fica fora de nós. Vejo os velhos e posso até mesmo escrever uma tese sobre eles, se eu for um professor universitário, mas a tristeza do velho é só dele, não entra em mim. Durmo bem. Nossas florestas vão aos poucos se transformando em desertos, mas isso não me faz sofrer. Não as sinto como uma ferida na minha carne.

Vejo as crianças mendigando nos semáforos, mas não me sinto uma criança mendigando em um semáforo. Vejo os meus alunos nas salas de aulas, mas meu dever de professor é dar o programa e não sentir o que os meus alunos estão sentindo. De que vale o conhecimento sem compaixão?

Todas as atrocidades que caracterizam os nossos tempos foram feitas com a cumplicidade do conhecimento científico. Parece que a inteligência dos maus é mais poderosa que a inteligência dos bons. Sabemos como ensinar saberes. Há muita ciência escrita sobre isso. Não me lembro, no entanto, de nenhum texto pedagógico que se proponha a ensinar a compaixão. Talvez o livrinho "Como Amar uma Criança", do Janusz Korczak - mas Korczak é uma exceção. Ele sabia que, para ensinar algo a uma criança, é preciso amá-la primeiro. Korczak era um romântico. Por isso o amo. Aí, fiz a mim mesmo uma pergunta pedagógica:

-"Como ensinar a compaixão?".

Conversando sobre isso com minha filha Raquel, arquiteta, ela se lembrou de um incidente dos seus primeiros anos de escola, quando ainda era uma menina de sete anos. Seria o aniversário da faxineira, uma mulher que todos amavam. A classe se reuniu para escolher o seu presente. Ganhou por unanimidade que, no dia do seu aniversário, as crianças fariam o seu trabalho de faxina. Disse-me a Raquel que a faxineira chorou.

Sei que as crianças aprendem com um olhar especial, o olhar de suas professoras. Elas sabem quando as professoras as olham com os mesmos olhos com os quais Fernando Pessoa olhava o arbusto quando escreveu o poema. Sei também que as histórias provocam compaixão quando o leitor se identifica com um personagem. Sei de um menininho que se pôs a chorar ao final da história "O Patinho que Não Aprendeu a Voar". Ele teve compaixão do patinho. Identificou-se com ele. Vai carregar o patinho dentro de si, embora o patinho não exista.

Lemos histórias para as crianças e para nós mesmos não só para ensinar a nossa língua, mas também para ensinar a compaixão. Mas continuo perdido.

Preciso que vocês me ajudem. Como se pode ensinar a compaixão?

por Rubem Alves
Site do autor: www.rubemalves.com.br

Ilha das flores